IDOSOS AJUDAM A TORNAR BAIRROS MAIS SEGUROS 01/09/2011 - 13:16

Criados para aumentar a participação da comunidade na prevenção e combate a situações de violência, os conselhos comunitários de segurança (Consegs) nos bairros de Curitiba estão ganhando fortes aliados: os moradores com mais de 60 anos. Com tempo livre, vontade de colaborar e experiência, eles são cada vez mais requisitados para ajudar a comunidade a enfrentar problemas que vão desde a ausência de módulos policiais nos bairros a casos cada vez mais frequentes de arrombamento de residências.

Um bom exemplo da participação ativa do pessoal de cabelos brancos é o Conseg Jardim das Américas, atuante desde 2001. Atualmente, toda a diretoria é formada por pessoas na terceira idade ou prestes a chegar lá – são cinco membros com mais de 60 anos e dois com 57. De acordo com o presidente do conselho, o empresário Pedro Forcadell, de 66 anos, a disponibilidade de tempo faz a diferença, uma vez que quem atua nesses órgãos precisa ter compromisso com o trabalho realizado, que é voluntário. “Se não houver comprometimento, as coisas não acontecem. O trabalho não tem remuneração e toma tempo”, diz.

A coordenadora estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança do Paraná, Michelle Lourenço Cabral, também destaca a disponibilidade de tempo como um bom motivo para que os idosos tomem a frente em tais atividades. “O trabalho exige participação em reuniões e cursos, visitas a secretarias e viagens, muitas vezes em horário de expediente, ou seja, é, preciso dispor de tempo”.

Outro diferencial deles é poder colocar em prática a experiência adquirida – seja na vida social, seja na profissional. Um bom exemplo é o conhecimento profundo da região, fruto da longa vivência no bairro. Como lembra Michelle, os idosos não costumam mudar de casa, o que faz com que eles consigam perceber a efetividade ou a necessidade de novos projetos preventivos, o foco dos conselhos.

Experiência

A experiência adquirida pelos idosos também é importante para resolver questões burocráticas que aparecem no dia a dia de quem assume a direção de uma associação. O bancário Jaime José Miquelleto, de 57 anos, colocou a habilidade em lidar com questões administrativas e com números a serviço do Conseg, do qual faz parte há três meses. “Ajuda na hora de elaborar uma ata ou fazer requisições por escrito”, exemplifica.

“Não dá para deixar tudo para a polícia”, diz voluntária

Quem atua nos conselhos precisa ter em mente que o trabalho é feito em prol de toda a comunidade, com foco, principalmente, na família. Nesses casos, de acordo com a voluntária do Conseg Sítio Cercado Arlinda Messias dos Santos, de 75 anos, a importância dada pelo idoso à instituição familiar é um “algo a mais” que ajuda os demais membros, mais jovens ou na meia idade, a enxergar a importância de um trabalho integrado.

Para Arlinda, que atua no Conseg há dois anos, desde que ele foi criado, os idosos deveriam participar mais desses conselhos, até mesmo como uma es­­pé­­­cie de terapia, para afastar a solidão e a depressão que acometem quem se aposenta ou perde um companheiro de muitos anos. Na Vila Osternak, região que ela representa no órgão, há muitas viúvas e ela tenta, aos poucos, convencê-las a se engajar para que o local, lembrado quase sempre pelos altos índices de criminalidade, ganhe uma nova identidade. Nos clubes da terceira idade que frequenta, Arlinda faz marcação cerrada sobre as amigas.

“Quero mostrar que ainda é possível fazer muita coisa. Não dá para deixar tudo para a polícia”, diz ela, que recomenda a participação nos Consegs até mes­­mo para que os idosos percam aquela sensação de vulnerabilidade que impede a muitos de terem uma vida social. “Tem uma amiga que diz que tem medo de pegar ônibus e ser assaltada. Esse temor a gente só perde quando luta por mais segurança”, diz.